O recente filme de Christopher Nolan
é fruto de uma paixão e uma obsessão. Não é segredo para ninguém, pois o
próprio realizador já declarou várias vezes, 2001
– Uma Odisseia no Espaço é o filme mais significativo e poderoso
que o cineasta já assistiu. Pois Interestelar
existe como forma de Nolan contrapor e, sob certo aspecto, “responder”, em seus
próprios termos, a mística transcendental que acompanha o filme de Stanley
Kubrick, que, lançado em 1968, finalmente acabou com a ingenuidade da ficção
científica no cinema.
Desde então, qualquer filme de
ficção científica que se preze e pretenda ser algo mais do que uma simples
aventura espacial ou tecnológica, precisa necessariamente avançar seus limites
e abordar questões filosófico-científicas fundamentais que acompanham a
Humanidade: a origem do homem; a (in)finitude do Universo; vida; morte;
dimensões paralelas e a relatividade do Espaço-Tempo.
Vamos aos fatos de Interestelar. O planeta
está em risco. Os meios de subsistência estão se extinguindo e a catástrofe se
aproxima. Uma das saídas para a sobrevivência da Humanidade está na colonização
em outros planetas. Em busca do local ideal para a nova “Terra”, uma missão
espacial exploratória é lançada ao hiperespaço com o auxílio dos “buracos
negros” que acessam outras dimensões da física espacial.
No anterior Origem, Christopher
Nolan foi acusado de ser excessivo nas intermináveis explicações dos
personagens, tentando trazer algum sentido às teorias que embasavam a lógica da
narrativa. O diretor contava com a suspensão de descrença da plateia. Já o
mesmo não necessariamente ocorre em Interestelar.
O nível das explicações é bem comedido (talvez até um pouco demais), por outro
lado, as teorias expostas são reais e cientificamente aceitas no terreno das
hipóteses.
Já citamos a relação com 2001, mas Interestelar ainda
possui alguns pontos de contato com ... Contato,
dirigido por Robert Zemeckis e estrelado por Jodie Foster, lançado em 1997. O
filme também narra uma viagem dimensional para outras realidades. E,
curiosamente, também conta com Matthew McConaughey no elenco, como um religioso
dividido entre a fé e a ciência. Mas aqui não é o caso. Ele interpreta um
ex-astronauta que acredita firmemente no poder da ciência e na força do amor e
da família.
Interestelar é uma produção imperfeita, ainda
que extraordinária em suas pretensões. Desnecessariamente longo e, por vezes,
dispersivo, o filme de Christopher Nolan não consegue, em suas quase três horas
de duração, dar conta do excesso de possibilidades que a história insinua. Mas
isto não tira o brilho de sua ousadia. E que uma coisa fique certa: poucas
vezes o cinema tratou com tanta criatividade os efeitos da Teoria da
Relatividade que altera Tempo e Espaço. Contar mais que isto é spoiler!
(Texto originalmente publicado no
portal "Movi+" em novembro de 2014)
Jorge Ghiorzi
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