segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

"Interestelar": para o infinito e além


O recente filme de Christopher Nolan é fruto de uma paixão e uma obsessão. Não é segredo para ninguém, pois o próprio realizador já declarou várias vezes, 2001 – Uma Odisseia no Espaço é o filme mais significativo e poderoso que o cineasta já assistiu. Pois Interestelar existe como forma de Nolan contrapor e, sob certo aspecto, “responder”, em seus próprios termos, a mística transcendental que acompanha o filme de Stanley Kubrick, que, lançado em 1968, finalmente acabou com a ingenuidade da ficção científica no cinema.

Desde então, qualquer filme de ficção científica que se preze e pretenda ser algo mais do que uma simples aventura espacial ou tecnológica, precisa necessariamente avançar seus limites e abordar questões filosófico-científicas fundamentais que acompanham a Humanidade: a origem do homem; a (in)finitude do Universo; vida; morte; dimensões paralelas e a relatividade do Espaço-Tempo.


Vamos aos fatos de Interestelar. O planeta está em risco. Os meios de subsistência estão se extinguindo e a catástrofe se aproxima. Uma das saídas para a sobrevivência da Humanidade está na colonização em outros planetas. Em busca do local ideal para a nova “Terra”, uma missão espacial exploratória é lançada ao hiperespaço com o auxílio dos “buracos negros” que acessam outras dimensões da física espacial.

No anterior Origem, Christopher Nolan foi acusado de ser excessivo nas intermináveis explicações dos personagens, tentando trazer algum sentido às teorias que embasavam a lógica da narrativa. O diretor contava com a suspensão de descrença da plateia. Já o mesmo não necessariamente ocorre em Interestelar. O nível das explicações é bem comedido (talvez até um pouco demais), por outro lado, as teorias expostas são reais e cientificamente aceitas no terreno das hipóteses.


Já citamos a relação com 2001, mas Interestelar ainda possui alguns pontos de contato com ... Contato, dirigido por Robert Zemeckis e estrelado por Jodie Foster, lançado em 1997. O filme também narra uma viagem dimensional para outras realidades. E, curiosamente, também conta com Matthew McConaughey no elenco, como um religioso dividido entre a fé e a ciência. Mas aqui não é o caso. Ele interpreta um ex-astronauta que acredita firmemente no poder da ciência e na força do amor e da família.

Interestelar é uma produção imperfeita, ainda que extraordinária em suas pretensões. Desnecessariamente longo e, por vezes, dispersivo, o filme de Christopher Nolan não consegue, em suas quase três horas de duração, dar conta do excesso de possibilidades que a história insinua. Mas isto não tira o brilho de sua ousadia. E que uma coisa fique certa: poucas vezes o cinema tratou com tanta criatividade os efeitos da Teoria da Relatividade que altera Tempo e Espaço. Contar mais que isto é spoiler!

(Texto originalmente publicado no portal "Movi+" em novembro de 2014)

Jorge Ghiorzi

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