quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Hello Mr. Corman



O mestre dos filmes B, Roger Corman, marcou presença no Brasil semana passada (nota: outubro de 2014). Ele foi o convidado especial do evento "Madrugada Sangrenta" que aconteceu em Curitiba, um misto de happening de fãs de filmes de terror / horror, mostra de filmes, palestras, oficina e concurso de roteiros. O fato de ter acontecido no final do mês de outubro, em pleno Halloween, não foi uma mera coincidência.

A principal participação de Corman no evento foi sua Master Class, onde passou a limpo sua prodigiosa e bem sucedida carreira, comentando aspectos curiosos, por vezes bizarros, da produção de alguns de seus mais de 400 filmes produzidos e/ou dirigidos por ele. Engenheiro de formação, Roger Corman começou no cinema como roteirista. Após algumas poucas experiências na área concluiu que ele próprio poderia dirigir suas histórias. Curiosamente a estreia como diretor foi com um western, chamado Cinco Revólveres Mercenários (1955 - Five Guns West).


Na condição de diretor ou produtor, Roger Corman construiu sua reputação na indústria pela eficiência em produzir com rapidez e poucos recursos. Sempre foi, e continua sendo, um genuíno cineasta independente, de verdade. Sua fórmula é imbatível: Orçamento apertado + Cronograma apertado = Filmes criativos. Uma prova de seu prodigioso formato de produção? Somente no ano de 1957 Roger Corman dirigiu 10 filmes (!).

O uso das ferramentas intuitivas de marketing sempre balizaram suas produções. O filme é produto comercial, pelo qual o público paga ingressos para consumir. Por esta ótica, era bastante comum nos anos 50 (quando Corman começou) que os títulos dos filmes fossem os mais apelativos possíveis, justamente para despertar antecipadamente a atenção do público. Inclusive, quando os títulos destas produções B eram criados, na maioria das vezes não havia sequer uma linha do roteiro escrito. Apenas o título e o cartaz. Assim, surgiram naquela época títulos como A Besta de Um Milhão de Olhos; O Ataque das Sanguessugas Gigantes; A Mulher Vespa; O Ataque dos Caranguejos Gigantes e A Besta da Caverna Assombrada, entre outras tantas pérolas.


Esperto e antenado nas reações do público, Roger Corman revelou um pequeno segredo que descobriu logo em suas primeiras produções: o "monstro" sempre deve ser mais alto do que a mocinha do filme. Por que? Simples: no momento de pavor a mocinha tem que olhar para cima para potencializar o medo.

Fato incontestável da obra de Roger Corman foi sua intuição para descobrir novos talentos, muitos dos quais viriam a ser futuros atores e diretores de prestígio premiados com o Oscar. Entre eles estão atores como Robert de Niro e Jack Nicholson, e diretores como Martin Scorsese, Francis Coppola, James Cameron, Jonathan Demme e Tim Burton. Contou que para descobrir os novos talentos sempre deu oportunidades aos jovens que fossem inteligentes, trabalhassem duro e fossem criativos.

Hoje, aos 90 anos, Roger Corman segue na ativa, cheio de projetos e entusiasmo. Atento ao mercado como sempre, está de olho nas novas mídias e formatos de distribuição de conteúdo, na internet, nas exibições on demand e redes sociais. Por fim, deixou uma lição: ser independente é ser livre. Hello, Mr. Corman. Vida longa.

(Texto originalmente publicado no portal "Movi+" em novembro de 2014)


Jorge Ghiorzi

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