O mestre dos filmes B, Roger Corman,
marcou presença no Brasil semana passada (nota: outubro de 2014). Ele foi o
convidado especial do evento "Madrugada Sangrenta" que aconteceu em
Curitiba, um misto de happening de fãs de filmes de terror / horror, mostra de
filmes, palestras, oficina e concurso de roteiros. O fato de ter acontecido no
final do mês de outubro, em pleno Halloween, não foi uma mera coincidência.
A principal participação de Corman no
evento foi sua Master Class, onde passou a limpo sua prodigiosa e bem sucedida
carreira, comentando aspectos curiosos, por vezes bizarros, da produção de
alguns de seus mais de 400 filmes produzidos e/ou dirigidos por ele. Engenheiro de formação, Roger Corman
começou no cinema como roteirista. Após algumas poucas experiências na área
concluiu que ele próprio poderia dirigir suas histórias. Curiosamente a estreia
como diretor foi com um western, chamado Cinco
Revólveres Mercenários (1955 - Five Guns West).
Na condição de diretor ou produtor,
Roger Corman construiu sua reputação na indústria pela eficiência em produzir
com rapidez e poucos recursos. Sempre foi, e continua sendo, um genuíno
cineasta independente, de verdade. Sua fórmula é imbatível: Orçamento apertado
+ Cronograma apertado = Filmes criativos. Uma prova de seu prodigioso formato
de produção? Somente no ano de 1957 Roger Corman dirigiu 10 filmes (!).
O uso das ferramentas intuitivas de
marketing sempre balizaram suas produções. O filme é produto comercial, pelo
qual o público paga ingressos para consumir. Por esta ótica, era bastante comum
nos anos 50 (quando Corman começou) que os títulos dos filmes fossem os mais
apelativos possíveis, justamente para despertar antecipadamente a atenção do
público. Inclusive, quando os títulos destas produções B eram criados, na
maioria das vezes não havia sequer uma linha do roteiro escrito. Apenas o
título e o cartaz. Assim, surgiram naquela época títulos como A Besta de Um Milhão de Olhos;
O Ataque das Sanguessugas
Gigantes; A
Mulher Vespa; O
Ataque dos Caranguejos Gigantes e A Besta da Caverna Assombrada, entre outras
tantas pérolas.
Esperto e antenado nas reações do
público, Roger Corman revelou um pequeno segredo que descobriu logo em suas
primeiras produções: o "monstro" sempre deve ser mais alto do que a
mocinha do filme. Por que? Simples: no momento de pavor a mocinha tem que olhar
para cima para potencializar o medo.
Fato incontestável da obra de Roger
Corman foi sua intuição para descobrir novos talentos, muitos dos quais viriam
a ser futuros atores e diretores de prestígio premiados com o Oscar. Entre eles
estão atores como Robert de Niro e Jack Nicholson, e diretores como Martin
Scorsese, Francis Coppola, James Cameron, Jonathan Demme e Tim Burton. Contou
que para descobrir os novos talentos sempre deu oportunidades aos jovens que
fossem inteligentes, trabalhassem duro e fossem criativos.
Hoje, aos 90 anos, Roger Corman segue
na ativa, cheio de projetos e entusiasmo. Atento ao mercado como sempre, está
de olho nas novas mídias e formatos de distribuição de conteúdo, na internet, nas
exibições on demand
e redes sociais. Por fim, deixou uma lição: ser independente é ser livre.
Hello, Mr. Corman. Vida longa.
(Texto originalmente publicado no
portal "Movi+" em novembro de 2014)
Jorge Ghiorzi
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