sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Federico Fellini segundo Ettore Scola


Lá se vão quase 21 anos que Federico Fellini partiu. Foi em 31 de outubro de 1993 que o celebrado diretor italiano nos deixou. Por ocasião do 20º aniversário da sua morte, o Festival de Cinema de Veneza encomendou um filme para celebrar a memória do "Maestro". A tarefa coube ao cineasta Ettore Scola (Nós Que Nos Amávamos Tanto; Um Dia Especial; O Baile), que já havia declarado que não filmaria mais. No entanto, Scola abandonou sua aposentadoria e voltou a dirigir após 10 anos. Assim nasceu o personalíssimo documentário biográfico Que Estranho Chamar-se Federico - Scola conta Fellini. Reunindo fragmentos de memória, reportagem, encenação e retrospectiva, o filme revela facetas muito particulares do mestre Fellini.
Em suas primeiras sequências o documentário faz uma recriação ficcional do início da carreira de Fellini, quando era jovem desenhista cartunista que aspirava um lugar na publicação satírica "Marc'Aurélio", famosa por suas críticas políticas. Nestas passagens, reencenadas em preto e branco, de forma cômica, Scola introduz a figura de um "narrador", que entra em cena, olha para o espectador e vai nos contando a história que transcorre ao seu redor.

Federico Fellini foi na verdade um grande mentiroso. Tanto que recebeu o apelido de "Pinóquio" do cinema italiano, por sua habilidade em "recriar a realidade" de maneira que ela se ajustasse à sua visão do mundo, das coisas e das pessoas. Fellini tinha nos pequenos dramas das pessoas comuns sua matéria prima. Para ilustrar esta peculiaridade, Scola recria em dois momentos um dos prazeres de Fellini: passear de carro à noite por Roma, abordando e dando carona para desconhecidos, apenas pelo prazer de ouvir suas histórias. Que, sabemos todos nós, posteriormente seriam fonte de inspiração para futuros filmes.
Outra passagem marcante do documentário é a recriação dos atos fúnebres de Fellini, quando seu corpo ficou exposto para visitação pública nos estúdios Cinecittà. Nesta sequência Ettore Scola opta por uma visão mais poética e menos realista. Inspirado no espírito brincalhão do mestre, o diretor sugere que seu antigo companheiro está na verdade brincando com todos nós. O velho Fellini, quem sabe, ainda anda por aí, criando e (re)inventando histórias. Inclusive a sua própria.
(Texto originalmente publicado na revista "Voto" em junho de 2014)
Jorge Ghiorzi

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