Localizado num tempo e espaço bem
definidos, houve um período muito peculiar do cinema brasileiro. Um período
onde nosso cinema foi autossuficiente, pois produzia, filmava e exibia suas
produções praticamente à margem do chamado "cinema oficial", então
patrocinado pela hoje extinta estatal do audiovisual, Embrafilme. Estamos
falando da época da Boca do Lixo, que se constituiu quase num mundo à parte
naquele momento tão prolífico da nossa cinematografia.
O tempo está localizado no período
entre o final dos anos 60 e o final dos anos 80. O espaço era a Rua Triunfo (e
suas imediações), localizada na região central da cidade de São Paulo. Lá
floresceu uma indústria audiovisual fortemente calcada pelo cinema de gênero,
extremamente popular, que transitava das comédias ao terror, do suspense aos
dramas, mas, todos eles, fortemente marcados pelo apelo erótico. Eram tempos de
ditadura e AI-5, onde as salas de cinemas de bairro constituíam o espaço
possível para um pouco de liberdade criativa e expressão de individualidade.
Foi neste ambiente de intensa
produção cinematográfica que surgiu uma revista de cinema que viria a ser um
dos principais marcos históricos daquele período de efervescência. A publicação
se chamava Cinema em Close-Up, que foi editada de 1975 a 1977. Com
entrevistas, artigos e críticas, a revista registrou o surgimento, o apogeu e a
glória da Boca do Lixo. Inserida no próprio núcleo da produção da Rua Triunfo,
pois sua redação ficava literalmente no olho do furacão, a revista foi em seu
tempo o porta voz "extra-oficial" daquela geração de cineastas,
técnicos, atores e atrizes. Editar uma revista de cinema, especialmente naquele
tempo, não era tarefa das mais fáceis. Mas a "Cinema em Close-Up",
fundada e editada por Minami Keize, foi responsável por estabelecer um nível de
respeitabilidade à Boca do Lixo, na medida em que levou aquela indústria de
cinema popular para a mídia impressa.
Hoje os raros exemplares da
publicação são disputados por colecionadores de todo o país. Mas essa história
tem um final feliz. Todo o acervo das revistas publicadas foi digitalizado e
está disponível para ser redescoberto, num louvável projeto de resgate
conduzido pela Heco Produções.
Visite a página: www.portalbrasileirodecinema.com.br/cinemaemcloseup/
(Texto orifinalmente publicado no
portal "Movi+" em novembro de 2014)
Jorge Ghiorzi
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