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Jorge Ghiorzi
Membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de
Críticos de Cinema) e ACCIRS (Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do
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Polêmica. Esta é a marca que acompanha a produção francesa desde a primeira exibição no Festival de Cannes em 2024, onde conquistou o Prêmio do Júri e o prêmio de Melhor Atriz, concedido para a performance coletiva do elenco feminino. As primeiras vozes dissonantes já surgiram lá mesmo no prestigiado festival e prosseguem até hoje, turbinadas após as surpreendentes 13 indicações ao Oscar. Para o público brasileiro há ainda outro aspecto bastante particular e localista. A lenha na fogueira das controvérsias só aumentou após Emilia Pérez (Emilia Pérez, 2024) representar o grande adversário de Ainda Estou Aqui na corrida pela estatueta dourada do Oscar.
Assunto para alimentar o debate apaixonado é o que não falta. Declarações equivocadas e preconceituosas do diretor Jacques Audiard se somam às antigas mensagens inconvenientes da protagonista, a atriz Karla Sofía Gascón, resgatadas nas redes sociais, além de todo um contexto de acusações de exploração preconceituosa da realidade cultural mexicana representada no filme. Todo este cenário cerca a recepção e/ou rejeição de Emilia Pérez neste momento em que chega às telas em seu lançamento comercial.
O filme acabou entrado em um terreno minado. As repercussões destas controvérsias têm contaminado uma eventual boa vontade da audiência na apreciação isenta da produção. Convenhamos, no entanto, que Emilia Pérez reúne uma série de temas e abordagens de alto risco: olhar europeu etnocentrista sobre a América Latina; cartéis de narcotraficantes mexicanos; protagonista trans; procedimentos de transição de sexo e, cereja do bolo, o filme é um musical, justamente no ano em que Coringa 2 fracassou amargamente por apostar no mesmo caminho. Reúna tudo isto em um único filme e pronto. As chances de não funcionar são enormes. Não funcionou mesmo. Independente das contestações e acusações que surgiram no período pós-indicações ao Oscar, o fato é que Emilia Pérez não foi feliz no resultado.
Uma sinopse rápida para quem tem pressa: chefão do narcotráfico mexicano, Juan “Manitas” Del Monte, casado com Jessi (Selena Gomez), contrata advogada, Rita Castro (Zoe Saldaña), para ajudá-lo a se retirar do seu negócio e realizar o sonho secreto de tornar-se mulher. Assim, nasce Emilia Pérez (Karla Sofía Gascón).
Neste processo de transformação efetivamente duas novas vidas surgem. Rita, a advogada com poucas perspectivas de crescer na profissão torna-se imediatamente uma milionária pelos serviços prestados, e Juan / Emilia realiza o desejo de viver com outro corpo ressignificando seu gênero. Cresce entre elas uma amizade para a vida, mas há uma questão a resolver com o destino da esposa Jessi e os filhos. É basicamente sobre este entrecho dramático que se sustenta o filme de Jacques Audiard. A questão da transformação em si, da mudança de sexo, é quase um tema secundário em Emilia Pérez.
O processo de transformação não mudou apenas o corpo de Emilia. A percepção dos males do mundo aflora em sua mente acionando um gatilho de consciência. Quando existia em um corpo inadequado o chefão praticava o mal extremo, quando encontrou sua adequação de gênero ocorre o despertar. Inicia então uma cruzada de arrependimento e redenção ao assumir um papel público como símbolo de justiça social e luta pelos direitos da população esquecida. Nesta nova missão de vida Emilia assume ares de figura mítica, adorada pelo povo como uma santa popular.
Em termos de abordagem e concepção Emilia Pérez revela suas fragilidades como realização cinematográfica. Não há como negar que representa o México, os mexicanos e a cultura latina em geral com os estereótipos mais rasteiros que usualmente encontramos em produções de Hollywood. Por ser uma produção europeia, que supostamente trataria com mais cautela e atenção estes temas, o filme pecou muito. O que se percebe com clareza é que o contexto latino, multicolorido e sonoramente exuberante, não passa de um artifício cosmético com efeito manipulador.
Algo semelhante ocorreu com Romeu + Julieta de Bazz Luhrmann, que se apropriou de uma estética “caliente” para transportar a Verona da obra original para a modernidade em Venice Beach na Califórnia dos anos 90. Neste caso com um nível de alegoria e fantasia que Emilia Pérez não alcança por buscar um caminho mais naturalista na essência de sua narrativa. Inclusive, na utilização da música, Romeu + Julieta (para permanecermos no mesmo exemplo comparativo) se sai melhor. Como musical o filme de Jacques Audiard também não se realiza plenamente. Números musicais nada memoráveis se somam às canções nada marcantes apenas comprovam que o diretor errou a mão, demonstrando pouca intimidade (ou inspiração) para o gênero.
Emilia Pérez é mais moralista do que gostaria de ser. Evidencia ser uma produção oportunista que se apropria de um discurso progressista, concebida com estratégicos apelos mercadológicos, que pega carona na levada do momento. Faltou verdade, convicção e propósito na história que pretendia contar. Restou, citando Shakespeare, “muito barulho por nada”.
Assista ao trailer: Emilia Pérez
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Uma possível surpresa para aqueles que assistirem O Homem do Saco (Bagman, 2024) é descobrir que essa não é uma lenda exclusivamente brasileira. Por aqui essa figura sinistra que apavora o imaginário infantil é mais conhecida com o nome de Velho do Saco, uma espécie de andarilho que recolhe as crianças malcriadas e desobedientes as colocando em um saco e levando para local desconhecido. O fato é que este personagem simbólico está presente na cultura popular de muitos países, com predominância naqueles de língua latina, com pequenas variações nas mitologias locais.
Então neste O Homem do Saco temos uma versão de como esta figura é tratada nas terras do Tio Sam. Nesta (inexistente) disputa de versões estamos em larga vantagem. O nosso tradicional Velho do Saco raiz é muito mais apavorante do que esse tal de Bagman, com sua sacola de couro com zíper. A direção é do cineasta britânico Colm McCarthy, que possui grande experiência na TV onde dirigiu vários episódios para séries como Doctor Who, Sherlock, Peaky Blinders e Black Mirror.
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Assista ao trailer: A Verdadeira Dor
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O poder de imaginação proporcionado pelo cinema permite criar mundos inexistentes, reproduzir mundos conhecidos e, acima de tudo, especular sobre mundos inacessíveis, ainda que reais. Neste último caso entra em cena a especulação, baseada em fatos parciais, cujas lacunas são preenchidas pelo o que chamamos de ficção. Um ótimo exemplo desta capacidade especulativa da sétima arte é o thriller dramático Conclave que se passa inteiramente no ambiente intramuros do Vaticano durante o processo de votação dos cardeais para a escolha do novo papa para liderar a Igreja Católica. Sabe-se que este processo é extremamente sigiloso, realizado sob rígidas regras de compliance que proíbem a divulgação pública de alguns de seus ritos secretos. Portanto, resta ao cinema – e também à literatura - conjecturar com o salvo-conduto da liberdade criativa. Baseado no livro de Robert Harris lançado em 2016, Conclave foi dirigido pelo alemão Edward Berger, que ganhou destaque mundial há três anos com o drama de guerra Nada de Novo no Front.
A vacância do trono papal se dá imediatamente na primeira sequência de Conclave. A partir da morte do sumo pontífice iniciam todos os procedimentos para o funeral e posterior organização do encontro dos cardeais, vindos de diversas partes do mundo diretamente para o Vaticano, com o objetivo de promover a votação para a escolha de um novo papa. O responsável pela organização e supervisão do conclave é o cardeal Thomas Lawrence (Ralph Fiennes). Isolados do mundo exterior os cardeais ficam confinados na Capela Sistina, submetidos a várias rodadas de votação, até que se defina por unanimidade o eleito para assumir o trono.
O que em tese seria enfadonho como narrativa cinematográfica, ganha contornos de uma emocionante trama de suspense e thriller de investigação quando os disputantes ao pleito entram no jogo pesado e obscuro de mentiras, segredos comprometedores e destruição de reputações dos favoritos. No centro das ações está a figura do cardeal Lawrence que deve conduzir um desgastante processo eleitoral com serenidade e justiça, ainda que segredos inconfessáveis tenham chegado ao seu conhecimento. Dividido entre verdades inconvenientes e a defesa da credibilidade da Igreja Católica perante os fiéis, ele carrega o peso de uma decisão que tortura sua consciência.
Como seria de se esperar, o filme tem sido criticado pelo Vaticano por mostrar uma face negativa da Igreja Católica, marcada por corrupção, vaidade e ambição. O mais provável é que o que realmente incomodou as lideranças religiosas foi a inserção de uma visão progressista em oposição ao conservadorismo, representados por dois cardeais postulantes ao cargo de papa que abertamente apresentam ideias antagônicas. Sabidamente esta é uma pauta que a Igreja Católica não deseja enfrentar. Há ainda lançadas ao longo do roteiro – enxuto e brilhante – outras questões que costumam forçar os limites tradicionais dos dogmas da igreja, como diversidade, inclusão e sacerdócio feminino.
Conclave é um filme contido, de pouca ação, e surpreendente ao incluir em dado momento um inesperado momento explosivo. Toda a construção dramática se dá mediante diálogos precisos e contextualizados acompanhados por uma edição ao mesmo tempo elegante e dinâmica. O desenvolvimento da trama mantém o permanente interesse ao trabalhar a tensão do mistério como um elemento catalizador.
O personagem do cardeal Lawrence, ao investigar um segredo que se esconde nas sombras do Vaticano, em certa medida emula um misto de Hercule Poirot (o clássico investigador criado por Agatha Christie) e Robert Langdon, o professor especialista em simbologia criado por Dan Brown (O Código Da Vinci), interpretado nas telas por Tom Hanks. A propósito, uma das aventuras de Langdon, Anjos e Demônios, se passa justamente no Vaticano com suas tramas palacianas. O desempenho de Ralph Fiennes como o cardeal “detetive” é um dos destaques incontestáveis do filme de Edward Berger. Após alguns anos fora do radar das grandes produções de destaque, aqui Fiennes entrega uma das melhores interpretações da sua carreira.
Conclave é uma realização deslumbrante que trata com ousadia e rigor temas pertinentes de uma Igreja Católica que se debate entre a tradição e a modernidade. Um empolgante thriller de suspense religioso que se movimenta sinuosamente pelos espaços do confinamento com provações que questionam a fé, a justiça e a verdade.
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A utilização do sexo como instrumento de poder e submissão é um dos fatos da vida utilizado com frequência na ficção da literatura e do cinema. Está aí, para comprovar uma referência exemplar, Ligações Perigosas, o romance de Pierre Choderlos de Laclos e a versão cinematográfica (dentre tantas outras) de Stephen Frears em 1988. Os temas fulcrais da narrativa da obra clássica da literatura francesa estão presentes como a matéria prima e gatilho propulsor do misto de drama e thriller erótico Babygirl, estrelado por Nicole Kidman em ousado e transgressor desempenho, levando-se em conta o status da estrela e o estágio atual da sua carreira. O papel foi um desafio ao qual a atriz se entregou completamente.
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